Mobilidade elétrica é interesse de toda a sociedade

Especialistas da indústria, do governo, da sociedade civil e da academia concordam que a mobilidade elétrica tem reflexos imediatos e importantes nos indicadores de saúde e emprego. Mas, tendo em vista que a cidade é plural, a pergunta que se coloca é: será que as pessoas têm essa percepção? Em outras palavras: será que a população também participa – ou está disposta a participar – dessa discussão?

Para o coordenador do portfólio de Transportes no iCS (Instituto Clima e Sociedade), Marcel Martin, a resposta é sim. O especialista apresentou uma pesquisa elaborada pelo iCS que compara dados de 2017 com 2020 referente ao uso de combustíveis fósseis e a transição energética. “A percepção da população em comprar um carro elétrico está se tornando uma realidade. Há um desejo e as pessoas entendem que é um caminho”, comentou.

O estudo demonstrou ainda que 92% da população entrevistada concorda com a eletrificação dos ônibus e defende que o transporte público deve ser qualificado, além de ter a percepção de que a transição é mais sustentável do que veículos a diesel. Essa foi uma das pautas discutidas durante a 1ª Conferência da PNME (Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica), realizada entre os dias 16 e 19 de novembro.

No último dia de evento, o coordenador de projeto da GIZ e coordenador-executivo da PNME, Marcus Regis apresentou como a Plataforma vem sendo elaborada internamente. “Estamos elaborando a proposta de um Plano Nacional de Mobilidade Elétrica, que nada mais é que uma estratégia que conecta muitos pontos e esforços”, explicou. Longe de ser uma solução para revolucionar o setor, mas com o objetivo de agregar vários eixos, a proposta terá elementos para alavancar ações micro e macro que vão mobilizar recursos, pessoas e força política. No entanto, Regis alerta que a responsabilidade não pode ficar nas mãos de apenas uma parte dos envolvidos (indústria, academia, governo e sociedade civil), ressaltando que a mobilidade elétrica deve ser implementada levando em consideração conjunturas, oportunidades e momentos econômicos.

Sobre a relevância dessa estratégia coordenada, Carmen Araújo, do ICCT (International Council on Clean Transportation), defende que o Brasil possui segmentos com muito potencial e que a eletrificação trará vantagens para todos. “Para o desenho de uma política nacional, é necessário um direcionamento que estimule a coordenação de esforços. Precisamos entender o que queremos resolver e as oportunidades de cada região. Devemos sinalizar setores a investir e direcionar melhor seus segmentos”, explicou.

Essa ideia vai de encontro com o argumento de Fernando Araldi, do Ministério do Desenvolvimento Regional. Para ele, o Brasil ainda possui muitas ações individuais e quando se pensa em desenvolvimento a estratégia deve ser coordenada. “Desenvolver esse modelo no âmbito nacional é importante, pois agrega pontos de vista de vários setores envolvidos proporcionando um ambiente de fórum e discussão.”

Criada com intenção de organizar não apenas o debate, mas também coordenar as ações de setores industriais novos e emergentes, a estratégia nacional parece fácil de ser colocada em prática, mas ainda pode passar por alguns gargalos. Para sair do papel, Igor Calvet, da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), defende que dois aspectos são fundamentais: governança clara e financiamento.

Já para Anie Amicci, gerente de Mobilidade Urbana do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um passo importante é priorizar os projetos que já demonstram maior tração, com maior possibilidade de sucesso e que sejam representativos para a sociedade. “Devemos apoiar aquele que está perto de atingir seu objetivo, pois poderá trazer mais benefícios sociais, com mais atores engajados, com menos pontas soltas”, explicou. O consenso de que a estratégia de um plano nacional trará várias oportunidades e que é importante contar com o governo para tornar esse ambiente propício de novas tecnologias é essencial, mas ainda assim é preciso saber comunicar com a sociedade.

Calvet encerrou o último painel da 1ª Conferência da PNME com essa provocação. “Temos questões da mobilidade elétrica que envolvem saúde pública, empregos etc. Como comunicar isso para a sociedade? De tudo que foi discutido, devemos tornar a política pública uma realidade. Saber comunicar esse interesse na sociedade emerge uma preocupação maior e, com um governo responsivo, há maior chance de ganhar destaque”, defendeu.

A partir de 30 de novembro, os vídeos da Conferência serão disponibilizados no canal da PNME no YouTube.

Compartilhe o nosso conteúdo: